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10/23/2009

MEDIOCRIDADE NÃO É ARTE


No caminho para casa, à tarde, liguei a Rádio Pioneira, para ouvir Luís Gonzaga, com seu português peba, porém de incrível alma nordestina, telúrica e monumentais frases de gosto popular e criatividade. Arranjos e instrumentos inventados pelo rei do baião.Isto é arte. E arte não é só fazer. Gonzagão precisa dar uma folga ao seu eterno repouso, para explicar a certos forrozeiros e bumbuzeiros o que é arte.
O simples ato de produziir um texto ou discursar, por exemplo, não significa uma obra de arte. Há os que escrevem; há os literatos. Há discursadores e oradores, mas há tribunos de raro talento, quase extintos nas câmaras e parlamentos. A diferença entre fazer e criar é enorme. Um é mecânico e trivial; o outro é arte. Milhões de jovens jogam futebol; poucos alcançam a glória dos raros chutes, dribles, defesa e malabarismos. Isto é arte. Isto é criatividade. Criar não é só fazer. Mas fazer diferente, criar o que não existia. “ Aquele que te criou sem ti não te salvará sem ti.” A frase, de imensa profundidade teológica, bem construída, melódica, exige reflexão de quem a lê. É criação de Sto. Agostinho. Ninguém no planeta a criou antes. Por isso, é propriedade e arte de Sto. Agostinho. “Luz do sol, que a folha traga e traduz.” Nem os livros de biologia descrevem dessa maneira o fenômeno da clorofila. É arte e talento de Caetano Veloso.
A maioria das rádios, especialmente comunitárias, beira a burrice, analfabetismo, e merecem até cadeia os que as comandam, pelo uso da imoralidade, sem nenhuma responsabilidade social. Cadeia também para desbundados forrozeiros, cuja inteligência funciona no traseiro, cujas dançarinas lembram prostitutas de cabaré fuleiro. Ainda existem pais que permitem suas filhas, adolescentes, a frequentar shows de puro apelo erótico e safado, sob exaustivos anúncios publicitários. Estudantes de Ensino Médio e universitário não conseguem digerir e interpretar uma simples frase de rara profundidade e criatividade. Contentam-se com o pirão indigesto das mesmices baboseieas de amor, do tipo “ acho que te amo” ou “ se eu fosse você, eu voltaria pra mim” e mais “ soca, soca ,soca.” Sugiro um festiarte, tipo planeta dos macacos. Todo mundo nu, grunindo, saltando, como romanos decadentes, esfregando-se nas banheiras térmicas e orgásmicas.
No momento político por que passa o Brasil, dominado por mentalidades esquerdistas, de cultura apostilesca, oriundas da verborréia marxista e sindical, virou pecado mortal falar e escrever artisticamente. Professores universitários defendem a linguagem rasteira, aplaudem o besteirol e a rasteirice cultural e torcem o nariz aos “elitistas”. Esquecem que até o popular artístico exige tempero, molho e criatividade na frase diferente e rara. Basta ouvir o genial Luís Gonzaga para se preceber o talento de Humberto Teixeira, fiel parceiro, e confrontá-los com a mediocridade que ronda nosso forrobodó de prostíbulo. Acho que Luís Gonzaga não se disporia a quebrar seu eterno sono para ensinar essa a gente de massa cefálica retal o que é arte. A galera só entende de “soca, soca, soca".

* Por: José Maria Vasconcelos, Cronista.
Email: Josemaria001@hotmail.com

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