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10/18/2011

Autoridades de Roupa Imunda


Hoje, caí de cheio na parábola do banquete nupcial, lida e comentada sabiamente pelo Pe. Carlito, vigário do S. João. Ao contrário do carismático sacerdote, arranquei uma liçãozinha a mais da parábola.
      Jesus Cristo, quando se dirigia à elite, abandonava o sermão amável e misericordioso dos desvalidos, para detonar os homens da lei e a elite cabeçuda, hipócrita e exploradora da população. O Mestre utilizava-se do maior recurso da linguagem: a metáfora ou parábola.
     Em época de tremenda safadeza por que atravessa a elite deste país, os bandidos e assassinos poderosos tentam driblar promotores e autoridades honestas, como se Deus não existisse, “que lhes cobrará até o útimo centavo da dignidade.”
  Jesus fala de grande banquete nupcial, para o qual enviou convites aos amigos íntimos. Em vez de honrarem a convocação, esses especiais escolhidos menosprezaram-na, tripudiando o monarca, inventando mil desculpas, inclusive de ir ver os bichos no campo. O rei, revoltado, mandou convidar a reles da cidade, nos botecos e favelas, os pífios sociais, mas exigiu-lhes que se vestissem adequadamente, porquanto os pobres botam o melhor nos eventos da vila. O palácio encheu-se de gente. Um dos convidados, porém, afrontou o rei, vestindo roupa, digamos, imunda. O rei baniu-o e o castigou.
      Roupa suja é pior que ficha suja. Roupa suja fede, descaracteriza a nobreza da festa. Ficha suja permanece arquivada, sem muito efeito, pelo menos nos labirintos das poderosas influências.
    A parábola do banquete real cai bem na vida brasileira, nos palácios da administração pública, onde gestores e políticos são convocados para honrosa missão social, contudo se utilizam de desculpas e roupagem moral esfarrapada para se banquetear com o alheio. Essa gente recebe a convocação para nobre tarefa, mas se esquece de fundamentais virtudes: vestir-se de dignidade, de respeito à instituição, da missão divina de comandar. Segundo apóstolo Paulo, “o poder vem de Deus.” Quem não se veste bem desse privilégio merece ser banido da festa, como o pilantra da parábola.
    Não se brinca com a dignidade. É o mesmo que se banquetear com a imundície. Os imundos pagarão caro - sabe Deus e sua justiça, que muitos tripudiam e não creem.
     Os que se vestem de roupa imunda se fazem de poderosos deuses, porque o divino, para eles, é incógnito. Deus é tão bom, que ainda aguarda que se banhem de vergonha na cara.

*José Maria Vaconcelos, cronista - Josemaria001@hotmail.com

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