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9/23/2010

POÉTICA BARRA GRANDE



Esses barcos fundeados no mar em frente à praia, ao balanço das ondas, querem dizer alguma coisa. Algo como a permanência do que, por natural, deveria se extinguir. Ou a resistência vertida em rima de dócil convivência. Ou ainda um deixar-se levar pelas ondas, vagamente, ao ritmo do mundo. Em verdade, os barcos fundeados no mar da Barra Grande não querem dizer nada. São que nem esses meninos sentados sobre o muro, que balançam as pernas, preguiçosamente. Os barcos se cumprem assim: balançando para lá e para cá, para lá e para cá. Balançando lentamente, ao sabor das ondas. As luas Sobre o mar, ao sol poente, kitesurfistas empinam luas coloridas no céu de Barra Grande. Sobre o chão d’água cavalos líquidos saltam obstáculos, campeiam ilusões. O horizonte Onde começa a areia, para onde segue o mar e o céu, para onde gira o céu? E onde se acaba o horizonte, nestes infinitos de mistério e luz, onde o mundo se refunde, eternamente? Em Barra Grande tudo é coisa única: a areia, o mar, o vento e o céu (o céu onde se fabricam os destinos). O vento Palmeira curvada, ao vento da praia: mulher vexada segurando a saia. O céu Mal começamos a contar as estrelas do céu da Barra Grande, e os números já se acabaram. Resta apreciar a flutuação dos astros sobre a imensidão do mar: A Lua, o Caminho de São Tiago, o Cruzeiro do Sul, as Três Marias o Órion, a Andrômeda, e a Estrela da Manhã. Sentir-se ínfimo, inexpressivo, ao máximo grau da insignificância como aquela última estrelinha, que mal se consegue distinguir. E súbito, descobrir que, sem qualquer uma daquelas estrelas, (mesmo aquela, a miudinha), o céu seria menor. O sol O sol se levanta mais cedo e brota no horizonte para acariciar a pele morena das mulheres e iluminar as cores das luas de cetim dos kitesurfs. As ondas, quando acordam... (Ops! Melhor encerrar o poema por aqui. As ondas nunca acordam. Onda não sabe o que é dormir). A brisa Sopra, eterna e lenta, uma brisa em Barra Grande. Traz histórias do mar profundo. Sopra, eterna e lenta, uma brisa em Barra Grande , esvoaçando cabelos
eriçando pelos e despertando úmidos segredos noturnos. A árvore Nos arrecifes de Barra Grande, lá no meio do mar, uma arvorezinha cresce na maré baixa. Nem mesmo o mar e seu rugido conseguem conter a vida quando ela resolve se afirmar. Ah, a vida: Arvorezinha frágil que teima em crescer no mar do tempo.
— Arvorezinha, resista! Você é a nossa última esperança.


·        Por: Paulo José Cunha – Jornalista.
·        Fotos: Rocilda Sabóia.

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