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1/27/2009

A PORTA DO NUNCA MAIS




No Senegal, havia uma região muito pobre chamada A porta do nunca mais, onde as pessoas eram segregadas e escravizadas. Gilberto Gil, inspirado nessa miséria moral e social, elaborou uma música onde diz que a Lua que cobre todas nações cobre o povo do Gorê, como também era denominado aquele lugar. Dia desses, eu estava em sintonia com a espiritualidade para dar apoio à minha mulher que estava deprimida. E, de repente, surgiu à sua frente a Joaquina, vestindo uma roupa bem bonita e um sorriso solto na face, ainda com aquele jeito humilde e gracioso, que tinha quando a conhecemos no Sanatório Santa Fé, em Três Corações - Minas Gerais. Explico: essa mulher viveu nesse hospital, era portadora do vírus da hanseníase e morava numa casinha bem pequenina. Tínhamos que nos abaixar para entrar em seus cômodos. Essa singela moradia, no entanto, abrigava uma alma determinada e alegre, a Joaquina. Um exemplo de dignidade e coragem. Pois bem, foi a imagem dessa mulher simples e iluminada que o Universo desenhou na atmosfera alentando o coração de minha mulher. E ela sentiu o efeito extraordinário dessa presença e deu um salto para a alegria. A Lua que enternece almas nobres que circulam pelas alamedas das cidades envolvidas pelo progresso, com certeza, nas noites todas se debruça sobre as palhas secas que cobrem a casa das criaturas humildes, para observar e iluminar seus corações. Nada neste mundo está descoberto. Os deuses tem panos quentes e aconchegantes para cobrir os corpos todos, mesmo daquelas pessoas segregadas e escravizadas pela dor e solidão. Se você, por um momento da sua vida, se sente à beira de ultrapassar a porta do nunca mais, tenha certeza de que lá no outro lado, onde faltam olhos humanos para ver a sua dor, a Natureza terá sempre o Sol e a Lua para encantar e aquecer o seu coração. Permita-se ser amado pelo Universo. Tudo bem, o Universo protege você, mas será que você tem adquirido ferramentas para dar qualidade de vida à sua alma? Ou será que você vive assim, como diz uma antiga e linda música: "estava à toa na vida, o meu amor me chamou, pra ver a banda passar, tocando coisas de amor; a minha gente sofrida, despediu-se da dor, ao ver a banda passar, tocando coisas de amor". Está certo, uma música muito bonita, uma banda passando pela rua podem nos remeter para pensamentos de saúde e paz, ainda mais com a presença do amor ao lado. No entanto, às vezes, é preciso mais, principalmente percepção, tanto em relação ao que estamos fazendo, como no que diz respeito ao que fazem conosco. Há possibilidades de você se algemar e deixar-se arrebatar por ondas de maldade, assim, de repente. Uma situação aparentemente simples, uma palavra e, pronto, deixamos nos levar pela mágoa, entristecemo-nos, nossa visão fica nublada e nem sol e lua poderão encantar e iluminar nossa alma. A porta do nunca mais pode estar aí do seu lado, aguardando um momento propício, para fazer-se obstáculo e sufocar seus intentos e sonhos. Observe os detalhes por onde você anda e o que você faz. Como está o céu neste momento? Há nuvens, prenunciando um temporal? Então, prepare-se, pegue a capa de chuva, deixe para ir mais tarde, informe a outra pessoa que possivelmente você irá se atrasar. Elimine o imprevisto de sua vida. Claro, sem se martirizar com idéias preconcebidas, antecipando dilúvios, quando tão simplesmente surge no horizonte uma nuvem trazendo uma garoa bem levezinha. Se você é daqueles que andam com a manchete de tragédia estampada em seu visual, cuidado. Pulverize dramáticas situações de sua mente. Cuide com carinho dos seus pensamentos. Que tal, pensar hoje, que você é uma pessoa divina, criada por Deus e que esse criador teve o poder de organizar um Universo perfeito? Será que ele errou em você. Ou você que está fazendo juízo equivocado das coisas e criaturas. Há muitas Joaquinas por esse mundo, em seus casebres, dando duro para conseguir seu pão de cada dia. E nem por isso são tristes e irritadiças. Essas Joaquinas que transitam pela porta do nunca mais, ainda mantem o seu brilho, a eloqüência de suas palavras, mesmo que sufocadas pela insanidade social que ameaça nosso mundo. E você, que está ainda por aqui, gozando de direitos e possibilidades de viver bem, o que faz da sua luz? Que encantamentos você realiza em seu cotidiano? Quantas vezes por ano você se dá o presente de ser feliz? Talvez a felicidade não esteja tão distante de você, pode ser que ali do outro lado da rua, você encontre o seu motivo de viver. Vamos, vá à procura de algo que o encante e nunca mais deixe as algemas da melancolia aprisionar o seu coração.
Por: Wilson Francisco - wilson153@gmail.com

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