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3/01/2013

Porto de Luis Correia: vergonha que se esconde debaixo das pedras 


Não foi fácil nosso acesso aos escombros a que chamam “obras do Porto de Luís Correia. Mas foi necessário o nosso deslocamento até lá, para que pudéssemos ver de perto e novamente nos manifestar a respeito do nosso descrédito sobre a conclusão daquela obra, contestando também a desfaçatez com que nossos políticos ainda tratam o assunto, marcando até data para a inauguração do Porto de mar do Piauí.
Fotos: Kléber Nogueira
Este é um tema que deve ir além das declarações dos políticos, que continuam blefando nos meios de comunicação, usando o tema “Porto” apenas e tão somente para ludibriar a boa fé de quem deseja ver o Piauí pensando e agindo grande.
Num Estado paupérrimo como o nosso, é um crime inominável continuarem jogandodinheiro no fundo do mar, como tem sido feito até agora. E depois, já nem se sabe mais para é que o Porto vai servir ou se compensa o emprego de mais recursos.
O secretário estadual de transportes, Avelino Neiva, voltou a anunciar recentemente que o governo federal assegurou a liberação de recursos para a tão sonhada conclusão do Porto de Luís Correia. Segundo ele, seriam 110 milhões para a construção do cais e 240 milhões para a recuperação da parede. O secretário até prevê para setembro de 2014 a conclusão da obra.
Ora, quem como nós foi no “canteiro de obras” constatar in loco a situação, pode afirmar de cátedra: O Piauí não terá um porto nunca. Por diversos motivos, muitos dos quais já excessivamente explicados na imprensa em geral, inclusive na internet, por técnicos abalizados no assunto. A literatura sobre o tema já é extensa.
Além do mais, vimos com nossos próprios olhos a necessidade de se refazer grande parte do que já foi construído, sem contar com equipamentos deteriorados (veja as fotos) pela maresia e já totalmente imprestaveís.
O Porto e sua viabilidade
Na visão do engenheiro especialista em Portos (UFMA) Rafael Tavares, Portos são elos intermediários de uma cadeia de distribuição logística. O que os definem, ou seja, a razão deles existirem, são as cargas. Portanto, portos “nascem” em função de uma necessidade de mercado e nunca da forma como querem fazer com o Porto de Luís Correia: Faz-se o porto e depois “aparece” o mercado.
Abraçar agora a ideia de concluir o Porto do Piauí sem um planejamento de longo prazo, para atender a interesses politiqueiros, será um dos maiores crimes praticados no Piauí contra o dinheiro público. Além do mais, tudo terá que ser iniciado do zero, pelo nível de destruição e sucateamento em que se encontra o material que ali já foi colocado. Inclusive a pista estreitou-se, com as águas deslocando as pedras laterais. Por lá, em alguns pontos,  já não é possível passar um caminhão com carga.
Porto de Cabotagem
Dizem que agora “a coisa vai”  porque o governo federal foi quem decidiu: O Porto do Piauí terá recursos para ser concluído, porém, apenas para navegação de cabotagem. O que isso quer dizer? Que teremos um Porto só para navegação nacional, servindo de entreposto para os Portos de Suape (Pernambuco), Pecém (Fortaleza) e Itaqui (São Luís).
A pegunta é a seguinte: qual a carga que o porto de Luis Correia vai movimentar? A soja da região de Uruçuí não tem mais viabilidade já que existem ferrovias e terminais de granéis sólidos menos distantes; Frutos dos Tabuleiros Litorâneos? É bem provável que, quando estiverem sendo produzidos em grande escala sejam transportados em vôos e/ou pelo porto do Pecém (Ce).  “Não creio que tenha demanda em consignação de carga (quantidade) que justifique um Porto, fora o risco ambiental de ter um porto tralhando com combustível na APA do Delta do Parnaíba”, afirma o especialista Rafael Tavares.
Segundo o professor Carlos Henrique Rocha, que é o coordenador do Centro Interdisciplinar de Estudos em Transporte, da Universidade de Brasília, “a frota mercante da cabotagem no Brasil está inadequada às necessidades econômicas do país, por isso esse tipo de transporte ainda é tão subutilizado. Há ainda a escassez de carga para a criação de linhas regulares de cabotagem”.
Acredita ainda o professor Carlos Henrique que a cabotagem possa aumentar sua participação na matriz de transporte de carga geral em contêineres, desde que haja carga regular e em quantidade suficiente que viabilize o surgimento de linhas de cabotagem entre as regiões do Brasil.
Há 150 anos, quando não haviam as estradas que hoje o Brasil possui, talvez fosse possível e viável economicamente nosso Porto de cabotagem. Nos dias atuais fica parecendo que, mais uma vez, o governo federal vira as costas para o Piauí, porque nossos políticos são fracos; são da bancada do “amém”, que só aplaudem, não fazem pressão. “Para eles do Piauí qualquer coisa os deixa contentes,” devem pensar os ministros da presidente Dilma.

*Autor: Benedito Gomes (Contador UFPI)
*Colaboradores: Bernardo Silva e Kléber Nogueira

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