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7/22/2011

Enfim, encantadora Luís Correia


Quem foi o babaca que ordenou fincar placas às margens das rodovias, estimulando turismo às praias do Ceará? Por acaso, o regionalismo exacerbado dos cearenses nos retribui igual afeto com semelhantes anúncios, de Fortaleza às divisas do Piauí? Eis a diferença por que levas de piauienses se mandam pro litoral cearense, encantados com a propaganda de lá, onde todo recanto estéril e rústico vira sonho paradisíaco, sem exagerados recursos públicos. Entretanto nossos vizinhos se refugiam cá e se embebedam de larga extensão de praia enxuta, capaz de servir de pouso a enormes aeronaves. Ou do exuberante delta, farto de caranguejos e delícias do mar, de onde eles nos levam e se banqueteiam lá.
    Praias de Fortaleza se enchem de piauienses, e os de lá se escondem dos incôdos farofeiros, em outras paragens. Os de cá regressam encantados com a areia grossa, de doer nas pernas, sob furacão de ondas violentas engolindo estreito espaço de praia. Tadinho de meu povo, hebreu errante, saudoso das panelas do Egito, embora comendo pão do céu e codornizes nos campos.
     Praia de Atalaia, um brinco, depois das chibatadas do Ministério Público cobrando paradeiro das verbas aplicadas. Tomara se volte para as obras do aeroporto, onde nem teco-teco internacional aterrissa. Só dinheiro público. Mais barato, quase de graça, permitir aviões nas praias, cheinhos de gringos. Famigerado porto, cada vez sedimentado de bagulho do Rio Parnaíba e verbas que já formaram ilhas prósperas de ladrões engravatados.
     Visitei Barra Grande. Nem tão grande, nem tão barra. Tão primitiva e farofeira como as coroas do Parnaíba, em Teresina. Praia de Atalaia, respeite a nova urbanização: amplo e organizado estacionamento, iluminação noturna banheiros, sanitários de primeira, calçadões, restaurantes acolhedores, menos nos preços.
Enterneço-me, só de contemplar campinas, coqueirais, rebanhos pastando ao léu bucólico, rumo às praias do Arrombado e Macapá. Saudáveis recolhimentos, porque o bem não faz barulho, e o barulho não faz bem. Sento-me à beira da Lagoa do Portinho, mais cheio, um chope, um cheiro na minha Rita, olhar distante, oração regada a vento forte, feito Mar da Galileia, esplendoroso. Bem que Jesus aparecesse ali, aplacando ingrato assoreamento. Eu, hein, sair daqui, atravessar a Serra Grande, atrás de canoa furada? Aos babacas e defensores das carvoarias: “Não me roubem a autoestima, desviando-me a outros destinos.” Já bastam outros desvios.

*Por: José Maria Vasconcelos, cronista

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